Olá pessoal! Feliz ano novo a todos!
Neste início de 2016, em meio às nossas férias aqui na OperAção, resolvi dar uma passada pelo blog para trazer um texto motivacional dedicado aos traders estatísticos. Trata-se da reprodução de um artigo de 2007 da Revista Exame (online), mas que permanece mais atual do que nunca, principalmente no que diz respeito à eficácia dos métodos quantitativos/ algorítmicos para operação no mercado. Boa leitura!
Mito em Wall Street, o matemático que comanda a gestora Renaissance ganha mais de 3 000 dólares por minuto
Por Eduardo Salgado
Fonte: Revista Exame (online) – 14.06.2007
Perto das remunerações anuais dos principais nomes do mercado financeiro internacional, qualquer salário ganha uma dimensão microscópica. Mesmo levando-se em conta esse padrão milionário, porém, os rendimentos do matemático americano James Simons, de 69 anos, têm deixado muita gente em Wall Street roxa de inveja. No ano passado, Simons, dono da gestora de recursos Renaissance Technologies, de Nova York, levou para casa a fábula de 1,7 bilhão de dólares, quase o dobro da remuneração de George Soros, o lendário investidor que fez fama e fortuna ao derrubar a moeda britânica no começo dos anos 90. Em média, Simons, um senhor descrito por quem o conhece como um tipo “com os pés no chão” a despeito da fortuna que possui, ganhou mais de 190 000 dólares por dia — incluindo sábados, domingos e feriados –, ou 3 190 dólares a cada minuto do dia e da noite. Essa quantia leva em conta os lucros obtidos por ele com taxas de administração e de performance cobradas de seus clientes, além dos ganhos que teve aplicando o próprio dinheiro nos seus fundos. A título de comparação, a remuneração de Lloyd Blankfein, principal executivo do banco de investimentos Goldman Sachs, um dos maiores ícones do capitalismo mundial, foi de 54 milhões de dólares no ano passado. Nem dá para dizer que 2006 foi um ano de sorte para Simons. Em 2005, ele já tinha embolsado 1,5 bilhão de dólares.
Um matemático no topo
Na lista dos barões dos fundos de hedge, James Simons é o número 1. Em 2006, ele foi o que teve a melhor remuneração anual, quase o dobro da de Soros (em dólares).
Simons atua num segmento específico do mercado, os fundos de hedge, considerados há muito a elite do sistema financeiro pelo arrojo e pela capacidade de fazer, simultaneamente, operações em moedas, ações, commodities e títulos. Ao longo da última década, esses gestores se firmaram, de forma indiscutível, como elite também em termos de remuneração. Além de Simons, outros dois controladores de fundos de hedge ganharam mais de 1 bilhão de dólares no ano passado, segundo aponta um levantamento publicado recentemente pela revista americana Alpha. Juntos, os 25 profissionais que mais faturaram no segmento de fundos de hedge acumularam 14 bilhões de dólares em 2006, número três vezes maior que o registrado em 2003 e de magnitude comparável ao PIB do Uruguai.
Nesse mundo de titãs, Simons roubou de Soros o primeiro posto e hoje é visto como uma espécie de semideus por seus pares. A rentabilidade anual de seu fundo mais conhecido, o Medallion, agora aberto apenas para o próprio Simons e seus funcionários, é de 39% há 16 anos, um recorde absoluto em Wall Street. O Renaissance Institutional Equities Fund, fundo criado em 2005 e ainda aberto a investidores, rendeu 20% no ano passado. Uma das explicações para tal sucesso é o fato de Simons ser um matemático fora do comum. Sua especialidade são softwares baseados em algoritmos que fazem análises da trajetória de ativos, como ações e moedas, em busca de oportunidades — os chamados fundos quantitativos, nos quais pelo menos parte da operação financeira é comandada não por gestores, mas pelos computadores. Os bem-sucedidos programas de Simons são um segredo comparável ao da fórmula da Coca-Cola.
Quem trabalha na Renaissance fica conhecendo apenas parte deles. “Simons é um gênio da matemática”, diz Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central que teve uma passagem de sucesso pela empresa de George Soros em Nova York. No material usado para apresentar os fundos de Simons a novos clientes, afirma-se que todas as informações que possam afetar, ainda que minimamente, os preços dos ativos são consideradas pelo software. Há, é possível, uma boa dose de exagero nessa afirmação, mas o poder de fogo dos computadores à disposição de Simons serve de indicador da complexidade dos programas que geram os fundos. A capacidade de processamento de dados da Renaissance equivale à da Sun Microsystems, uma das maiores companhias de computação do mundo e criadora de tecnologias como o Java.
Simons é um ponto fora da curva também pelo time que formou. Entre seus 270 funcionários, há um exército de 80 doutores de áreas tão distintas como astronomia e lingüística. Em Nova York, sua fama é de ser um chefe preocupado com o bem-estar de seus funcionários e em manter um bom ambiente de trabalho. Isso e os bônus milionários explicam a baixíssima rotatividade da Renaissance. “Simons sempre mostrou interesse em ajudar quem está perto dele”, diz David Ebin, diretor do departamento de matemática da Universidade Stony Brook e amigo de Simons há mais de 35 anos. “Além de tudo, tem um ótimo senso de humor.” Apesar do clima aparentemente agradável e da remuneração, que fazem da Renaissance uma espécie de oásis no estressado mundo das finanças, a maioria dos analistas nem perde tempo em tentar cavar uma vaga na empresa. “O negócio dele é contratar Ph.Ds. de fora do mercado financeiro”, diz o carioca Raul Guimarães, sócio do fundo de hedge Seagul Capital e há 15 anos em Wall Street. “Não dá nem para almejar trabalhar com Simons.”
O sucesso da Renaissance, a sexta maior empresa do segmento no mundo, e os ganhos de Simons têm relação direta com o incrível crescimento dos fundos de hedge nos últimos anos. Em 2000, o patrimônio total dos fundos era de 490 bilhões de dólares, segundo estimativa da Hedge Fund Research, uma empresa de pesquisa de Chicago. Hoje, o número é de 1,6 trilhão, inflado pela procura de grandes fundos de pensão interessados em atraentes promessas de retorno. Essa crescente importância do segmento tem causado a ira de gente influente — caso, por exemplo, do ministro da Fazenda alemão, Peer Steinbruck. Segundo críticos como ele, o sistema financeiro mundial corre o perigo de entrar em colapso se o pânico se instalar por algum motivo no mercado financeiro e os especuladores embarricados nos fundos de hedge saírem vendendo seus ativos desenfreadamente. Steinbruck tentou, sem sucesso, convencer outros ministros econômicos na mais recente reunião do G8, o bloco dos países mais poderosos do mundo, a encampar a tese de algum tipo de controle externo. Outro flanco dos fundos de hedge explorado pelos críticos são os lucros bilionários sem que haja necessariamente a contrapartida em termos de retorno para o investidor. Para muita gente, os gestores ganham dinheiro fácil. Normalmente, um fundo cobra 2% de taxa de administração e 20% de taxa de performance, o que garante um bom retorno mesmo em caso de insucesso das aplicações. O fundo Bridgewater Associates, dos Estados Unidos, por exemplo, entregou a seus clientes um rendimento anual de sofríveis 4% no ano passado, mas ainda assim Raymond Dalio, seu fundador, levou 350 milhões de dólares para casa.
Com um histórico vencedor, Simons não pode ser acusado de frustrar a expectativa dos aplicadores. Seu sucesso como gestor é mais um capítulo de uma trajetória marcada pela busca da perfeição. Depois de acabar seu doutorado em matemática na Universidade da Califórnia, nos anos 60, Simons, filho de um empresário do setor calçadista, trabalhou para o Departamento de Defesa na época da Guerra do Vietnã no setor que tentava desvendar os códigos secretos usados pelo inimigo. Nos anos seguintes, seguiu carreira acadêmica e deu aulas nos prestigiosos MIT, Universidade Harvard e Universidade Stony Brook. O sucesso com seus investimentos pessoais fez com que abandonasse a academia no final dos anos 70 e apostasse no mercado financeiro. Como outros expoentes do segmento de fundos de hedge, Simons tem se destacado como doador de causas nobres. Há um ano, anunciou que daria 25 milhões de dólares para a criação de um centro de matemática e física na Universidade Stony Brook. “A vantagem dele é que conhece como a academia funciona. Por isso, além de doar dinheiro, ele opina sobre a forma como será investido”, diz Ebin, diretor do departamento de matemática da Stony Brook. Mesmo após todos esses anos longe das salas de aula, Simons ainda não perdeu o ar de professor universitário. Adora conversar sobre ciência e em nada lembra o figurino engomado dos grandes executivos. Para os investidores, esses detalhes são irrelevantes. O que importa são os resultados — e, nesse quesito, Simons, por quase duas décadas, tem sido rigorosamente impecável.